Somos bombardeados de informações o dia todo, e com isso mal lembramos do que comemos ontem na hora do almoço, imagina na ‘nossa época’.

Me dei conta que fantasiávamos o ‘ontem’ quando meu segundo filho nasceu e eu nem me lembrava de certas coisas como era na ‘época da minha filha’, que havia nascido há somente um ano e cinco meses. Mentimos! Gostamos de romancear a nossa história. Fica mais fácil. Escondemos a ‘parte feia’, estufamos o peito e falamos: ‘em casa isso não acontece’. Ah, que mentira. Lembre-se: cuspimos para cima, e olha a testa molhada. Claro, que o mundo muda, novas tecnologias chegam, evoluímos – ou deveríamos – chocamos com novos modelos, nos adaptamos a aquilo que nem queríamos nos adaptar. Mas olhar a ‘nossa época’ e romancear é algo que fazemos sem nos atentar, é como colocar em redes sociais que somos o tempo todo muito felizes, me entende? E,  por que gostamos do saudosismo mentiroso? Talvez porque temos uma habilidade fantástica de esquecer da dor. Lei da natureza, uma mãe fica tão encantada de ter um filho que se ‘esquece’ da dor. Gostamos da história das princesas mas sabemos que na real não é nada assim, não é a toa que o desenho acaba antes do ‘dia a dia’ chegar, sim sem o primeiro ‘pqp’ na primeira discussão. Wall Disney era sensacional em romancear a vida. Aliás, se o mesmo fosse vivo, seria – com certeza – chamado pela escola do seu filho Mickey, afinal um rato que vive sonhando, sofreria bullying na certa, e não passaria de ano já que fica ‘viajando’, e hoje em dia tudo tem que ser muito rápido – escrever, ler, falar três línguas. A sogra fala para nora, que na época dela tinha que lavar, engomar, passar – uma tarefa sem fim – a fralda de pano. Difícil, mas hoje temos que trabalhar para comprar a fralda, estar bem disposta para ser amiga, mulher, amante, depilada, unha feita, cabelos pintados – afinal ficam brancos mais cedo pelo excesso de preocupação… Ufa, um protocolo sem fim! Também é difícil – do seu jeito.

Na verdade cada época é uma época, com seus prós e contras. E, estamos aqui para evoluirmos, então nada de moleza, a vida é assim… Não, não é, e nem foi mais difícil ou fácil, é o que precisa ser para que possamos crescer. Claro, que um dia nem lembraremos da dor, usaremos a mesma ladainha de ‘na nossa época era…’. Somos misturas de ‘italianos, espanhóis’ portugueses, etc e tal . Gostamos de uma ‘sofrência’, adoramos a valorização do ‘nosso trabalho’. Não é a toa que as redes sociais viraram uma “carenciolândia”, a necessita em expor a vida, ainda que mentirosamente.

O melhor de tudo seria olhar para o passado e dizer: “Uau, o quanto aprendi”, e para o futuro: “ Que história fantástica, ainda posso construir”, o resto são só histórias – sem valorizações mentirosas – no máximo risos de tropeços, trazendo na bagagem, com a graça de D’us, tesouros bem lapidados.

Nurya Ribeiro

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